APOB RS11279109: UMA JANELA PARA A MEDICINA PERSONALIZADANO ENVELHECIMENTO OBESO

Résumé

INTRODUÇÃO 

O gene APOB codifica a apolipoproteína B, uma proteína essencial para o transporte e metabolismo dos lipídios. Alterações genéticas nesse gene podem comprometer a estrutura e funcionalidade das lipoproteínas, favorecendo dislipidemias e doenças cardiovasculares. O polimorfismo rs11279109 (INDEL na região promotora), que afeta o peptídeo sinal da proteína, tem sido associado à variação dos níveis plasmáticos de colesterol e risco aumentado de aterosclerose. A obesidade e o envelhecimento são condições que impactam fortemente o metabolismo lipídico. No contexto da cirurgia bariátrica, compreender a influência de polimorfismos genéticos no metabolismo pós-operatório é fundamental para aprimorar estratégias de acompanhamento clínico. Este trabalho teve como objetivo avaliar a distribuição genotípica do polimorfismo rs11279109 do gene APOB e sua associação com variáveis clínicas e bioquímicas em pessoas idosas submetidas à cirurgia bariátrica.

METODOLOGIA 

Foram incluídos 27 pacientes idosos (≥ 60 anos), submetidos à cirurgia bariátrica, conforme protocolo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE nº 1.910.166). As amostras de DNA genômico foram extraídas e analisadas por PCR, utilizando oligonucleotídeos específicos que flanqueiam o exon 1 do gene APOB (localização 2p23-24).As condições de amplificação incluíram desnaturação a 94°C por 2 minutos, seguida de 30 ciclos (94°C/60 s; 62°C/80 s; 72°C/60 s) e extensão final a 72°C por 10 minutos. O produto foi visualizado em gel de agarose a 3%, permitindo distinguir fragmentos de 375 pb (II), 366 pb (DD) e ambos (ID).Foram avaliadas variáveis clínicas (tabagismo, hipertensão, neuropatia, artralgia/mialgia, depressão/ansiedade) e bioquímicas (colesterol total, LDL, 25(OH)D), utilizando qui-quadrado de Pearson e Kruskal–Wallis, com p < 0,05 como nível de significância. Utilizou-se o software SPSS versão 30.0 para estas análises.

RESULTADOS

A distribuição genotípica foi DD = 37,0% (n=10); ID = 37,0% (n=10); II = 25,9% (n=7).Não houve diferenças estatisticamente significativas para a maioria das variáveis clínicas. Entretanto, observaram-se tendências relevantes para tabagismo (χ²=5,143; p=0,076), com maior frequência do genótipo ID entre tabagistas, e para neuropatia (χ²=5,738; p=0,057), mais prevalente entre indivíduos DD. Além disso, artralgia/mialgia mostrou valor limítrofe (χ²=5,559; p=0,062).Nos parâmetros bioquímicos, observou-se discreta elevação do colesterol total e LDL nos genótipos ID (210 mg/dL e 115 mg/dL) em comparação a DD (191 mg/dL e 96 mg/dL). A vitamina D apresentou variação modesta entre grupos. Apesar da ausência de significância estatística, esses achados sugerem influência potencial do gene APOB sobre a homeostase lipídica e a inflamação em pessoas idosas submetidas à cirurgia bariátrica.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

A apolipoproteína B desempenha papel central na montagem e secreção das lipoproteínas VLDL e LDL, sendo determinante na regulação dos níveis plasmáticos de colesterol. O alelo D (sp24) está associado a um peptídeo sinal encurtado e potencial redução na eficiência de secreção da proteína, enquanto o alelo I (sp27) conserva resíduos hidrofóbicos essenciais (Leu-Ala-Leu), favorecendo estabilidade e transporte lipídico adequado.No contexto do envelhecimento e obesidade, o metabolismo lipídico apresenta disfunções inflamatórias e oxidativas. Polimorfismos como o rs11279109 podem influenciar a resposta metabólica e inflamatória pós-bariátrica, com implicações para o risco cardiovascular e para a qualidade de vida da pessoa idosa.

CONCLUSÕES 

Os resultados apontam que, embora o polimorfismo rs11279109 do gene APOB não tenha apresentado associações significativas com variáveis clínicas e bioquímicas, há tendências relevantes envolvendo tabagismo, neuropatia e artralgia/mialgia. Tais achados sugerem possível papel modulador do gene APOB sobre processos metabólicos e inflamatórios em idosos com histórico de obesidade grave. O estudo reforça a importância de integrar abordagens genéticas à medicina personalizada do envelhecimento, contribuindo para a compreensão dos determinantes biológicos da saúde após a cirurgia bariátrica.

REFERÊNCIAS 

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